Pelé visitou praias do RN e decidiu construir um hotel em Ponta Negra

A morte de Pelé, Rei do Futebol, nesta última quinta-feira (29), repercute no mundo junto com informações sobre sua trajetória astronômica enquanto jogador. Ao lado disso, surge a memória do ser humano, Edson Arantes do Nascimento. Além do gosto pelo futebol, também tinha encantamento pelo Rio Grande do Norte, segundo relatos. Passou por Ponta Negra, Touros, Lagoa do Sal, Jacumã e São Miguel do Gostoso. Encontrou, ainda, na capital potiguar, lugar para um investimento próprio.

Ainda na década de 70, Pelé recebeu do Governo um terreno. Encantado pelas praias, retornou ao Estado nos anos 2000

Ele visitou o estado pelo menos seis vezes. Veio enquanto jogador em 1973 e, mais de 30 anos depois, retornou para o lançamento do King’s Flat, na rua Francisco Gurgel Praia de Ponta Negra, em novembro de 2006. O empreendimento foi construído em um terreno cedido pelo ex-governador Cortez Pereira. Um lote que pertencia a antiga Emproturn, avaliado, na época, em Cr$ 30 mil, medindo 1.400m².

A doação aconteceu após Pelé demonstrar interesse em construir um empreendimento em Natal com vista para o mar, ainda em 73. O desejo logo se tornou realidade, pois em setembro do mesmo ano, aconteceu a doação simbólica do lote, que foi aprovada pela Assembléia Legislativa um ano depois. O King´s Hotel foi construído três décadas depois pela construtora Imperial Construções, com cerca de 30 apartamentos, medindo 36 e 38m².

Em Natal, andava com o corretor Milton Torres, o sócio José Fornos, apelidado de Pepito, além do fotógrafo Canindé Soares. O corretor quem convidou o jogador para a cidade. Comenta que conseguiu o telefone do sócio de Pelé com um amigo de um amigo. Então ligou para ele numa segunda-feira, convidando-o para Natal, na quarta-feira da mesma semana. Trocaram informações sobre a construtora e assim fecharam negócio.

Na cerimônia, segundo cobertura da TRIBUNA DO NORTE da época, Pelé abriu mão de uma coletiva tradicional, então atendeu os fãs e jornalistas como pôde. Cada um atrás de um autógrafo ou de uma resposta. Seguiu assinando camisas e bolas conforme apareciam e respondia as perguntas de acordo com quem conseguia fazê-las primeiro.

Dessa vez, ficou cerca de quatro dias hospedado na suíte presidencial do Ocean Palace, na Via Costeira. Em seguida, visitou novamente o Estado em janeiro de 2007, e ficou hospedado no mesmo hotel durante uma semana. Na segunda vinda, passou pela praia de Lagoa de Sal, em Touros, onde pretendia firmar um empreendimento com o grupo dinamarquês, Takker, que faria de Pelé garoto propaganda.

O empreendimento seria a construção de casas de luxo de frente para o mar, além de apartamentos com área de lazer. Lagoa de Sal juntaria o Brasil à Inglaterra, Alemanha, Estados Undos, Portugal, Dinamarca e Espanha, os únicos países do mundo a contarem com as construções. O projeto não foi para frente, de acordo com o corretor Milton Torres. “Ele ficou encantado”, relembra.

Personalidade do Rei

Nas vezes que visitou a capital, se encantava cada vez mais por Ponta Negra e outros lugares que conheceu. Encontrava tempo para fotografar as belezas norte-riograndenses ao lado de colegas. “Eles vieram algumas vezes aqui em Natal e pediam sempre muito sigilo porque todas as vezes que ele vinha tinha muita gente. Então, para mim foi um ser humano maravilhoso que eu conheci e eu só posso lamentar a partida dele”, diz Milton.

Ele comenta sobre a personalidade do ídolo. Uma pessoa gentil. “É uma pessoa maravilhosa, foi muito gentil sempre com os amigos, com as crianças”, comenta. Relembra, ainda, que mesmo quando estava ocupado, não deixava de conversar com quem aparecia. “Onde a gente chegava, nos restaurantes, ele deixava de almoçar para abraçar um criança, para falar com os pais, as mães. Uma pessoa muito agradável, com o coração muito grande”, completa.

Milton relembra os lugares favoritos do jogador: Toca do Miga. “Ele disse que a próxima vez que viesse queria ficar lá, tocando violão e se brincando com os amigos e convidados”, diz Torres. O lugar pertencia a Miguel Carrilho. Além de lá, gostou de Touros, Jacumã e São Miguel do Gostoso. O sol, camarão, lagosta e peixe era o que mais comia. “Ele adorava como a gente fazia lagosta, na grelha, como churrasco”, comenta. Pelé provou lagosta do jeito nordestino, com manteiga do sertão.

“Gostou muito do litoral norte, achou as praias maravilhosas, muito calmas e tranquilas. O vento muito agradável. Ficou muito encantado com o Rio Grande do Norte”, relata Uma pessoa regrada, que não bebia muito e comia pouco, fazia jus ao corpo de atleta, de acordo com Milton. Conversava sobre futebol, principalmente sobre o Vasco, seu clube de paixão. “Foi uma semana muito agradável”, finaliza.

Canindé Soares era o fotógrafo da turma. Tem uma coleção de fotos do Rei. Fotografou Pelé na praia durante as visitas e relembra diversos momentos. “Foi muito bacana fazer esse momento. Uma oportunidade, para mim, bem legal. Eu não tenho nenhuma foto com ele porque não costumo tirar fotos com ninguém, mas tem as que eu fiz dele”, comenta.

Enquanto passava por Touros, o jogador avistou uma turma de pessoas jogando futebol e decidiu se juntar a elas. Todos ficaram surpresos, relata o fotógrafo. Depois de um tempo, postou a foto nas redes sociais. Uma das pessoas que estava em Touros na ocasião, viu a foto e aproveitou para deixar um comentário para aqueles que não acreditavam em sua experiência até então.

“O pessoal ficou, assim, boquiaberto porque era Pelé lá no interior e eu fiz a foto dele com esse pessoal. Anos depois eu postei a foto e uma das pessoas que estava lá, comentou. ‘Que bom que você postou porque eu contava essa história e ninguém acreditava’. A foto está lá até hoje”, conta.

Com relação a personalidade, Canindé completa os comentários de Milton. A simplicidade é o ponto mais destacado por ele. “É uma pessoa espetacular. A simplicidade extrema. Ele não falava estando com você de cima para baixo, ele falava de igual para igual. Na segunda vez que eu fui pegar ele no aeroporto, ele me chamou pelo nome. Uma pessoa muito simples”, diz.

Lembra, ainda, do dia em que estava no restaurante Sal e Brasa, na avenida Roberto Freire, e várias pessoas pararam o jogador para pedir fotos e ele não se incomodou. “Ele se levantava na maior calma do mundo’, diz. A personalidade calma, simpática e simples foi o que mais tocou o fotógrafo, que se lembra dos momentos até hoje e os conta com gosto, detalhe por detalhe.

A verdade é que as belezas do RN cativaram o Rei do futebol. Certamente, sua memória permanecerá em cada pessoa que tocou e os lugares por onde passou. Um ídolo para o mundo, cujo nome está ressoado nos quatro cantos. O amor que pregou também ressoa até hoje. Como disse em seu discurso de despedida do Cosmos, nos Estados Unidos: “Eu acredito que o amor é o mais importante que podemos tirar da vida”.

fonte : Tribuna do Norte

Postado em 30 de dezembro de 2022