Fiocruz debate importância da tecnologia para combate de surtos e pandemias

De acordo com o infectologista Antônio Bandeira, diretor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e especialista pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), há uma nova configuração da epidemia em cidades onde os casos não eram tão comuns. – (crédito: reprodução record tv)

Os setores públicos também vivem os impactos da era digital. A inclusão das novas tecnologias para a vigilância epidemiológica no Sistema Único de Saúde (SUS) foi destaque no primeiro dia do ciclo de webinários “Transformação Digital na Saúde Pública”, promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), nesta terça-feira (23/7). Os pesquisadores apontaram os desafios e as estratégias para a implementação, além da contribuição sustentável para o SUS. 

O evento foi coordenado pelo professor Manoel Barral Netto, pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos Antonio Ivo de Carvalho (CEE-Fiocruz) e da Fiocruz Bahia. “A ministra Nísia Trindade (Saúde) criou a Secretaria de Saúde Digital. Eu acho que esse é um marco dentro do nosso processo de estabelecimento da importância da ciência digital dentro do campo da saúde na perspectiva da saúde pública”, afirmou na abertura do webinário. 

Foram discutidos temas como a contribuição dessas novas tecnologias digitais, baseadas no uso da inteligência artificial e de grandes bases de dados, na preparação para novas endemias. O pesquisador em Saúde Pública Pablo Ramos destacou como os sistemas podem antecipar surtos e pandemias em grande escala. 

Ele ressaltou o trabalho da ÆSOP — que integra uma rede federada de sistemas de vigilância, permitindo compartilhar modelos de dados, ferramentas de análise e acompanhamento. 

“Eu gostaria de destacar que o ÆSOP é resultado de inteligência humana coletiva. Então é um projeto que envolve uma parceria muito forte com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas que envolve também diferentes expertises e capacidades e faculdades diárias”, disse Pablo Ramos. 

“É um projeto verdadeiramente interdisciplinar porque a gente entende que a vigilância da saúde também deve ser interdisciplinar principalmente, hoje, em que as metodologias genômicas, a ciência de dados e a trabalhar com grandes dados são necessidades enormes para fazer com que a gente consiga atacar e resolver os grandes problemas”, completou o especialista. 

Controle de dados

A saúde digital foi reconhecida como um elemento essencial no combate a pandemias em situações reais. Para os especialistas, tentar antecipar a emergência desses surtos a grande oportunidade para o Brasil para trabalhar a integração de equipes de saúde e de ciência de dados. 

A pesquisadora Claudia Torres Codeço destacou o trabalho do InfoDengue, um sistema de alerta para arboviroses, baseado em dados híbridos gerados por meio da análise integrada de dados minerados a partir da web social e de dados climáticos e epidemiológicos. Ela é a responsável acadêmica pela iniciativa. 

“O conceito de um sistema precoce é que os dados possam e a gente consiga dizer algo sobre um futuro próximo sobre a situação atual da transmissão das arboviroses. O ideal seria que tivéssemos acesso a dados que possam informar sobre a dengue. O que afetam os casos de dengue aumentarem ou não? É termos os vetores? Ou termos pessoas suscetíveis? Ou termos vírus? Uma cepa nova? Termos ações de controle que possam reduzir?”, explicou. 

No entanto, o sistema ainda carece de mais celeridade na coleta de informações. “Essas informações muitas vezes não estão disponíveis oportunamente. A ideia é que a gente utilize dados disponíveis que possam servir de proxy para esses fatores que estão diretamente associados com a transmissão das doenças”, disse. 

“O primeiro desafio é tratar e gerar uma informação atualizada na medida em que a informação oficial ela está sempre ligeiramente atrasada. O sistema de notificação, o tempo entre uma pessoa se infectar, a pessoa ter sintomas, visitar um profissional de saúde e gerar um dado, isso demora”, completou Codeço.

Postado em 23 de julho de 2024