Durante 40 anos, homicídios de mulheres foram subnotificados no país

Foto: Paulo H. Carvalho / Agência Brasil

Durante 40 anos, de 1980 a 2019, as taxas de homicídio de mulheres no Brasil foram subnotificadas, aumentando em 28,62% de 4,58 para 5,89 homicídios por 100 mil mulheres. Os dados foram coletados em um estudo realizado por pesquisador da Fiocruz, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Instituto Nacional de Câncer (Inca) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A pesquisa utilizou um método de identificação para identificar a violência de gênero em mortes violentas de mulheres a partir do registro de óbito do SIM/Datasus. A OMS caracteriza regiões com óbitos acima de 3 para 100 mil mulheres como de extrema violência.

O estudo apresentou aumento na frequência de óbitos por violência em todas as regiões brasileiras, com a maior discrepância na Região Norte, onde o número de ocorrências foi 49,88% maior do que o governo havia apontado. Houve um aumento de 9,13% na Região Sul. O recorte racial também foi analisado, mostrando que entre 2009 e 2019 houve uma redução nos homicídios de mulheres brancas e um aumento entre mulheres negras. As mulheres negras tiveram um risco médio 1,7 vez maior de serem assassinadas, sendo uma situação mais grave em alguns estados.

A faixa etária das mulheres entre 20 e 39 anos enfrenta maior risco de sofrer violência do que mulheres de outros grupos etários, e a cultura patriarcal mais conservadora aumenta o risco de violência doméstica. A pesquisadora Karina Meira destaca que esses resultados refletem a persistência do racismo no país e a falta de valorização dos corpos negros, tanto de mulheres quanto de homens. Os investigadores enfatizam a importância desse estudo para contribuir com os estudos de iniquidades de gênero no país.

Postado em 23 de março de 2023