A cada mil pessoas no Brasil, uma está com dengue

Os casos de dengue no Brasil tiveram um salto exponencial neste mês. Segundo o Ministério da Saúde, até ontem, 217.481 mil casos prováveis de dengue foram registrados no país, o que dá uma taxa de incidência de 107,1 casos para cada grupo de 100 mil habitantes. Em comparação com janeiro do ano passado, com 65.366 casos, o aumento é de 232,7%.

O Ministério da Saúde promoveu, ontem, o encontro de representantes da Sala Nacional de Arboviroses, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), em Brasília. Na reunião, foram divulgados novos dados sobre zika e chikungunya, duas doenças que, assim como a dengue, são transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

Com relação à zika, o Brasil acumula 105 casos prováveis — incidência de 0,1/100 mil habitantes). O Espírito Santo é o estado com maior número de casos prováveis, 81, seguido do Tocantins, com oito casos possíveis.

Nos casos de chikungunya, o número chega a 12.838, com um coeficiente de incidência de 6,3 casos para cada 100 mil habitantes. Três pessoas morreram em decorrência dessa arbovirose e 11 mortes ainda estão sendo investigadas. Minas Gerais lidera o ranking dos casos prováveis, com 8.962 ocorrências, seguido por Mato Grosso do Sul (428).

O cenário crítico da doença no país coincide com o início do período chuvoso e das altas temperaturas do verão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um alerta sobre o aumento das arboviroses em razão do desequilíbrio climático provocado pelo fenômeno El Niño.

Vacina

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, informou, no encontro em Brasília, que as doses da vacina contra a dengue ainda não estão sendo aplicadas na população por causa de uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que determina que a bula do imunizante deve estar impressa em português. A Takeda Pharma — indústria farmacêutica que produz a droga — deve adequar o produto à regra. “Estamos finalizando esse processo. A partir do momento em que seja solucionada essa questão, não haverá por que ter mais delongas”, disse a ministra.

Dos municípios que receberão as vacinas, 521 estão em situação de endemia ou de atenção pelo grande número de casos que apresentam. A ministra não descarta a possibilidade de priorizar alguns estados por causa do avanço mais rápido da doença, caso haja necessidade. “Não estabelecemos prioridades naquela lista, mas o critério de gravidade e do número de casos sempre será considerado, se for necessário escalonar aquilo que já definimos como prioridade”, explicou Nísia.

A distribuição dos imunizantes está prevista para começar na segunda semana de fevereiro, voltada para o público alvo: crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, grupo que concentra o maior número de hospitalizações pela doença. De janeiro de 2019 a novembro de 2023, 16,4 mil pessoas foram internadas com quadros mais severos de dengue. O esquema vacinal será composto por duas doses, com intervalo de três meses entre as aplicações. Em razão da capacidade limitada de fornecimento do imunizante pelo laboratório fabricante, a definição dos grupos prioritários se faz necessária de acordo com a estratégia definida pelo Ministério da Saúde. Neste ano, o governo adquiriu um total de 5,2 milhões de doses. Para 2025, a previsão é comprar mais 9 milhões de doses.

Combate ao mosquito

Frente ao avanço irrefreável da dengue no país, a população tem um papel fundamental para controlar a incidência da doença. Segundo o Ministério da Saúde, é recomendado o uso de repelentes, principalmente para quem mora em bairros ou regiões com alto índice de transmissão da doença. Outras medidas que ajudam são a instalação de telas nas portas e janelas; remoção de recipientes que possam acumular água e se transformar em criadouros de mosquitos; vedação de reservatórios e caixas de água; desobstrução de calhas, lajes e ralos; além da limpeza de terrenos, jardins, quintais e vias públicas para que não haja acúmulo de lixo.

Doença matou 15 neste ano

Os estados e o Distrito Federal enfrentam uma crise de saúde pública, com números alarmantes de incidência da dengue e altas taxas de ocupação de leitos pelos doentes mais graves. Em Brasília, a situação é preocupante, com a concentração de casos de dengue quase duplicando entre a terceira e a última semanas de janeiro. De acordo com dados do Ministério da Saúde, ontem, a capital brasileira viu seus números saltarem de 554 infecções por grupo de 100 mil habitantes para 1.034,3/100 mil em apenas uma semana.

O DF lidera as estatísticas entre as unidades da Federação quando o número de casos é comparado ao tamanho da população. Na sequência vêm Minas Gerais, com taxa de incidência de 327,3 casos por 100 mil habitantes, e Acre, com 312,2/100 mil.

Além da expansão da quantidade de contaminados, os números de mortes relacionadas à dengue também aumentaram. Distrito Federal e São Paulo lideram essa lista, com três mortos em cada uma das unidades só em janeiro. No total, o país registrou 15 mortes por dengue desde o início do ano.

O painel de monitoramento de arboviroses do governo federal confirmou as mortes registradas até o momento, e informa que 149 óbitos ainda estão sob investigação. Em 2023, os dados oficiais apontam para 41 mortes ligadas à infecção da dengue.

Como resposta à crise de saúde pública, alguns estados agiram rapidamente. O Acre foi o primeiro a decretar emergência devido à dengue, seguido do DF e de Minas Gerais, que também adotaram medidas similares para lidar com a situação e facilitar o acesso a recursos públicos para compra de remédios e equipamentos e reforço das equipes de vigilância sanitária e da rede pública de saúde. Essas medidas incluem a ampliação da rede de assistência às vítimas.

A dengue, transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, é considerada a arbovirose urbana mais prevalente nas Américas, com destaque para a incidência no Brasil. O Ministério da Saúde aponta que o aumento de casos da doença é atribuído a calor excessivo, chuvas intensas, fenômeno El Niño e ressurgimento dos sorotipos 3 e 4 do vírus da dengue no país.

Marina Dantas e Vitória Torres – Estagiárias sob a supervisão de Vinicius Doria

Fonte: Correio Braziliense

Postado em 31 de janeiro de 2024